Protesto Derradeiro

À Bruna e a mim

Tive medo quando avistei tua silhueta, receio de não poder amparar teu carinho. Eu não tenho ferramentas afetivas, minha bacia se torna pilar, meus braços se tornam marretas, minha cara pesa toneladas e eu não posso mover os músculos da tez. Meus dedos, feito bigornas, poderiam machucar tua face tão disforme e inacabada quanto bela. Queria ao menos demonstrar minha admiração por tua rebeldia, mas tua confiança hesitante sempre tripudia sobre minhas tentativas coxas.

Meu tronco áspero e meus braços rígidos como mármore envolvem temerosos teu corpo nebuloso. Comprimo teus tecidos enevoados contra minhas angústias como se esperasse que algumas se desprendessem de mim e lograssem tua alma e teu corpo. Antes que nos afastemos perplexos uno novamente as mãos a tuas vértebras, pois sei que sumirei diante de um muro de receios embaraçados quando nos pusermos um diante do outro. Então, eu encararei tua pele rósea, desbotada como pétala caída, convencendo-me que peço, sim, por beleza, inclusive aquela que dizem haver no âmago da pessoa, sentindo-me tão belo por fora quanto por dentro ao crer estar refletido nos olhos que julgo espelharem o meu avesso.
Por minha sanidade, sei que eu deveria me livrar logo de tua presença murmurante. Sei que minha comoção passa pelo desespero de quem faz pequenas incisões em seus braços com lâminas gastas, mas, salvo meu egoísmo, nada em mim luta para me defender de tua presença. Quando busco motivos para continuar sendo apenas quem sou, algo em mim protesta que é preciso te amar, mesmo que o afeto se choque contra minha suposta inclinação ao desprezo. Portanto, amar-te-ei, nem mesmo que seja apenas por mim e para mim. Tratar-te-ei desde já como emplastro, senão como cura.